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Existem bateristas e existe Neil Peart

  • Foto do escritor: Seja Menas
    Seja Menas
  • 11 de jan. de 2020
  • 5 min de leitura


O mundo da música, nesta sexta (10/01/20), perdeu o seu maior baterista, não refiro apenas ao estilo Rock ou Progressivo pois certamente Neil Peart era maior que a sua música e não seria justo, enquadrá-lo em qualquer gênero. Mas eu como cristão não vim através deste texto remoer a morte desse gênio, eu vim exaltar e demonstrar o quanto este homem foi importante para a história da música, e quem sabe, em um futuro distante quando as pessoas perguntarem quem foi Neil Peart, este texto possa trazer uma iluminação.


É impossível definir quem foi Neil Peart na bateria ouvindo apenas uma música ou assistindo unicamente a um show, a sua carreira como um todo foi um ponto muito “fora da curva”, ouso dizer que nos momentos os quais o Rush estava em maus caminhos, o baterista ainda mantinha seu desempenho em altíssimo nível.


A banda Rush como um todo, é um fenômeno excepcional no que se refere a produção musical. O baixista Geddy Lee com suas linhas de baixo fantásticas o que faz dele estar no Top 3 de maiores baixistas, Alex Lifeson com Riffs, Solos e performances inacreditáveis, apesar de não ser o maior guitarrista da história tinha seu lugar reservado no Olimpo do rock. Agora Neil Peart era inacreditável; o leitor pode pensar que eu estou exagerando, mas não meu caro, inúmeros bateristas apontam Peart como a principal influência, o maior mentor, ou até justamente adjetivado de “O Maior da História”.


Para deixar mais claro o quanto ele era sensacional retornaremos aos longínquos anos de 1975, quando o Rush precisava de um novo baterista, John Rutsey (primeiro baterista) saiu da banda devido a problemas de saúde, após ter lançado apenas um álbum denominado “Rush”. Então é neste momento que nosso querido Neil entra, em fevereiro é lançado o álbum “Fly By Night”, e logo na primeira faixa você já nota um enorme salto de performance. A música “Anthem” demonstra quais seriam os rumos do instrumento na banda, temos também a própria “Fly By Night” que com um tom radiofônico, conquista o ouvido de qualquer um que tenha o mínimo de decência musical; Só que há um porém nessa história, o álbum teve críticas bem mistas, diversas pessoas amaram enquanto outras acharam “mais do mesmo”. Mas essa pedra no caminho logo seria removida em 1976 com o lançamento do quarto álbum chamado “2112”.


Após um leve sucesso com “Fly By Night” e um tremendo susto com o fraco álbum “Caress Of Steel”, o Rush lançou o álbum “2112” e nele, o “pau quebra bonito”, a começar com uma musica de 20 minutos que é uma das coisas mais bonitas e complexas que a humanidade já produziu, mas é claro que as 5 seguintes músicas não deixam a desejar como a fascinante “A Passage To Bangkok”; a respeito deste álbum aparece toda a virtuosidade de Neil Peart com viradas e batidas que ressoam dentro da alma. Aqui marca o ponto de início em que o Rush deixou de ser uma mera banda canadense para ser a banda que conseguiria ter o feito de ser maior que a própria música.


Logo em 1977 seria lançado o álbum “Farewell To Kings” em que Peart toca além da bateria, sinos de orquestra, sinos tubulares, blocks, cow-bells (campana), carrilhão, sinos, triângulo e cabasa, ou seja, com apenas 25 anos ele já demonstraria seu enorme talento para fazer uma verdadeira orquestra ali atrás da bateria. Em 1978 chega ao mundo o que eu defino como a maior e mais bela obra já produzida pelo Rush, em Outubro o mundo é presenteado com o álbum “Hemispheres”, e caro leitor se você nunca escutou “La Villa Strangiato”, procure o mais rápido o possível escutar essa obra que eu garanto você não irá se arrepender, é incrível que com apenas 9 minutos os integrantes conseguem expressar toda a sua extrema maestria em seus instrumentos, é inovador como essa música expõe toda uma gama de magistralidade inerente em cada músico, Neil Peart dita a cada minuto como a banda vai prosseguir neste épico, e ele não para em nenhum segundo, há momentos em que ele segue mais tranquilo e suave mas logo em seguida toda sua energia é depositada na bateria com um frenesi sobre-humano, em cima de um enorme sentimento de que ele está depositando todos os seus conhecimentos e técnicas aprendidas.


Saltamos para 1981, após terem lançado em 1978 o “Hemispheres” o trabalho foi tão árduo e complexo que a banda se sobrecarregou, então em 1980 com o álbum “Permanent Waves” o Rush, procurou diminuir um pouco o ritmo de complexidade e retornar às raízes do Hard Rock, esse retorno não significa inferioridade, pelo contrário a banda após todas experiências adquiridas dos álbuns anteriores soube manter o nível e aperfeiçoar aquilo que tinha sido feito nas suas origens, com vários Hits como “The Spirit Of Radio”, “Freewill” e etc. Mas o foco aqui é em 1981, quando chega nas lojas “Moving Pictures” com toda a certeza é o mais famoso e mais aclamado álbum da banda, cabe ressaltar aqui que nosso herói Neil Peart escreveu a letra de todas as músicas, com exceção de “Tom Sawyer”, e mais uma vez o seu brilho aparece, as faixas dessa obras demonstram que é possível fazer um solo de bateria durante uma música, que em uma faixa instrumental é possível transmitir Código Morse (YYZ), e não ficar brega além de claro, ser radiofônico sem deixar de ser épico; É o álbum mais bem sucedido da banda, mas também é neste momento em que o Rush consegue adentrar no mundo pop, consagrando o nome de seus membros especialmente de Peart como magnífico músico.


Uma grande virtude de Peart é que como ele era um intelectual que lia com enorme frequência e utilizava todo esse conhecimento em suas letras, referindo a si mesmo como um Libertário do Neoliberalismo, ou seja, além de um virtuoso instrumentista, ainda era um intelectual que procurava sempre adquirir mais conhecimento e fazer proveito disso, elaborando composições e letras extraordinárias. Sem deixar de lado a sua paixão pela bateria o qual cada vez mostrava uma nova técnica que deixariam a todos de bocas abertas.


Peart colhia uma grande paixão por motos e velocidade, tinha uma BMW Vermelha que o acompanhou nos momentos mais alegres e também nos mais tristes, e foi nestes momentos em que Peart viajou pelos EUA, refletindo, questionando e se curando de suas dores internas; Anos mais tarde em seu retorno, publicou um livro o qual conta essa incrível experiência, intitulado “A Estrada da Cura” foi um sucesso, Peart pensou por muitas vezes se aposentar, antes de partir nessa viagem ele disse aos seus companheiros de banda “me considerem aposentado”.


O seu retorno veio depois de um longo tempo em 2002, após um período de luto pela morte de sua filha e esposa e com isso, ele decidiu voltar aos estúdios com a sua banda e gravar mais quatro discos incríveis, como já era de se esperar todos com uma extrema técnica e qualidade. A sua carreira na música se encerrou em 2012 com o álbum “Clockwork Angels”, que demonstrava apesar da idade um enorme peso em suas batidas, ele não deixava a qualidade “cair” afinal, era perfeccionista ao extremo em relação a sua arte.


O seu legado ficará para a história, e neste artigo procurei demonstrar toda a minha admiração por esse músico que com certeza, deixou uma marca na história do Rock e da Música como um todo. Ele disponha de uma maestria incrível para compor músicas memoráveis e que escutando hoje chego a me emocionar, e sabendo que lá no fundo nunca poderei conhecê-lo (pelo menos não nessa terra). O maior baterista abriu as portas para uma nova maneira de se tocar e ver a bateria, suas músicas ficarão para sempre na história juntamente com suas incríveis técnicas, viradas e batidas que adentram o seu coração e armazenam na sua alma, não é por menos que disse Charlie Benante (Anthrax) -"Existem bateristas e existe Neil Peart".


Descanse em Paz, Professor.



Escrito por: Hector Riegler Silva



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